Mau humor crônico

Mau humor crônico

Mau humor crônico

O mal do mau humor crônico

Entrevista com Olga Tessari

O mau humor crônico e constante é considerado um distúrbio conhecido como distimia e a alteração de humor também pode estar relacionada com a baixa produção de neurotransmissores.

Pessoas mal-humoradas estão em toda parte. Aliás, quem nunca ficou de mau humor?

A psicóloga e escritora Olga Tessari, que mantém informações sobre este e outros assuntos em seu site www.olgatessari.com explica:

“Todos nós temos momentos de mau humor, pois a oscilação de comportamentos e emoções faz parte do dia a dia: situações de alegria alternadas com momentos de tristeza, de tédio, irritação etc. É normal ficar irritado e de mau humor quando as coisas não caminham da forma como gostaríamos, quando algo que planejamos dá errado, quando criamos expectativas e elas não se concretizam, ou mesmo quando tudo à volta parece conspirar contra”, disse Olga Tessari.

“Estamos falando do mau humor que acontece de vez em quando, por causas especificas e problemas reais que muitas pessoas não sabem ou não conseguem lidar e que as irritam Agora o mau humor crônico, constante é uma doença que precisa de tratamento psiquiátrico e psicológico ao mesmo tempo”, conclui Olga Tessari.

O psiquiatra, professor do instituto de psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Antônio Egídio Nardi, concorda que todos podemos ficar de mau humor devido a alguns acontecimentos.

“O mau humor, nestes casos, tem um claro motivo, é passageiro e, se o problema é desfeito, logo desaparece. Acontece que algumas pessoas têm um mau humor constante para todos ou quase todas as situações. Mesmo em momentos favoráveis, só conseguem ver o lado negativo e ficam irritadas”, disse o psiquiatra e continua:

“Por exemplo, mesmo ganhando na loteria, o individuo só pensa nos problemas que uma fortuna pode trazer: inveja, interesses materiais, maior risco de sofrer um sequestro etc. Pessoas com mau humor crônico podem estar sofrendo de um transtorno chamado de distimia.”

Nardi, que juntamente com os autores Ricardo A. Moreno e Táki A. Cordas escreveu o livro “Distimia – Do Mau Humor ao Mal do Humor: Diagnostico e Tratamento”, conta que a doença se caracteriza por irritação crônica, pessimismo, baixa autoestima e falta de prazer em todas ou quase todas as situações do cotidiano.

“O distímico, em geral, trabalha, participa de reuniões sociais etc., mas tem uma vida limitada. Sempre se acha inferior aos demais, não reconhece o prazer em coisas do cotidiano e sempre espera o pior de tudo, além, é claro, de ficar irritado com qualquer situação.”, diz Nardi e continua:

“Entre os vários problemas para quem sofre deste transtorno, a solidão é o pior, pois o distímico se afasta das pessoas porque elas o irritam e as pessoas se afastam do distímico porque ninguém aguenta um mal-humorado o tempo todo. A depressão é muito comum no distímico. Podemos dizer, sem exagerar, que todo distímico terá ao menos um episódio depressivo durante a vida”.

Para a psicóloga Olga Tessari, o diagnóstico de distimia – mau humor crônico – é feito quando os sintomas existem há, pelo menos, dois anos seguidos. “Talvez o distímico já nasça com distimia – a psiquiatria julga que o fator genético é muito importante para o desencadeamento da distimia. É muito difícil determinar quando este quadro clínico se inicia, mas o diagnóstico seguro só pode ser realizado no adulto”.

Alterações em neurotransmissores afetam diretamente o humor

De acordo com o neurologista, presidente do Departamento de Neurologia da Associação Paulista de Medicina e professor da Santa Casa de São Paulo, Rubens José Gagliardi, o humor é mediado por substâncias químicas, chamadas neurotransmissores, que atuam dentro do cérebro em áreas especificas e fazem com que haja variações ou estabilidade do humor. São elas: a serotonina, a noradrenalina e a bradicinina.

“Situações clínicas – tanto neurológicas quanto psiquiátricas -, algumas doenças estruturais ou ainda situações vivenciais podem alterar a produção dessas substâncias e, consequentemente, a pessoa pode sofrer uma alteração de humor – tanto uma alegria muito forte, euforia, quanto um mau humor, depressão etc.”, disse Rubens e continua:

“Isso sempre está ligado a uma bioquímica cerebral. Por exemplo, coisas do dia a dia (falta de sono, cansaço, estresse, fome) ou então estrutural (um acidente vascular cerebral – AVC, um tumor, uma crise epilética, um trauma de crânio) podem comprometer a produção das substâncias neurotransmissoras e, em algumas pessoas, desencadear uma alteração de humor”, relata Rubens.

Mau humor crônico compromete a vida da pessoa

Os especialistas são taxativos em afirmar que o mau humor pode comprometer a saúde da pessoa.

“Principalmente se chegar a um ponto de irritabilidade ou depressão. Podemos ter várias consequências no organismo: aumento da pressão arterial, alterações metabólicas – quem for diabético pode sofrer uma descompensação da diabetes, pode subir o colesterol, entre outras coisas”, cita Gagliardi.

“Pessoas mal humoradas ficam estressadas, o nível de ansiedade se eleva, o que pode colaborar para que elas se mantenham irritadas, provocando um circulo vicioso que gera cada vez mais irritação, estresse e mau humor. A pessoa pode comer demais ou se envolver com álcool ou drogas com forma paliativa de aliviar seu mau humor”, disse Olga Tessari.

“É comum o individuo ter distúrbios do sono (dormir demais ou ter insônia), buscar isolamento para evitar se irritar com outras pessoas, tornar-se pessimista e sentir fadiga crônica. O estresse crônico pode gerar uma série de doenças físicas como gastrites, úlceras, síndrome do intestino irritável, alergias, diminuição do sistema imunológico, hipertensão etc.”, acrescenta Olga Tessari.

Ajuda profissional é muito importante

Segundo a psicóloga e escritora, Olga Tessari, o humor pode ser transmitido geneticamente, mas também aprendido dentro da família: pais mal-humorados, que reclamam de tudo, transmitem seu mau humor para os filhos e eles aprendem a ser mal humorados.

“É fundamental que a pessoa busque a ajuda profissional de um psicólogo quando seu mau humor atrapalha ou interfere na sua vida, quando traz problemas nas diversas esferas do dia a dia e, principalmente, para evitar um mal maior que a tensão elevada pode causar em longo prazo”, disse Olga Tessari e complementa:

“O tratamento psicológico leva a pessoa a mudar a sua forma de encarar seus problemas, a pensar e agir de forma mais positiva, resgatando o prazer de viver”, conclui Olga Tessari.

Para o neurologista, Rubens Gagliardi, a neurologia pode auxiliar na detecção do que está causando o mau humor.

“Hoje, há vários medicamentos que podem ser utilizados para corrigir esse tipo de alteração. Se for uma depressão por falta de serotonina, por exemplo, existe uma gama de remédios que aumenta a produção de serotonina ou dificulta a receptação desta substância”, disse Gagliardi.

“Há, também, outros medicamentos que atuam em outros neurotransmissores – por exemplo, se for um caso de ansiedade, existem medicamentos que a reduzem, outros fármacos que controlam o sono -, além de procedimentos não farmacológicos que podem ser usados para ajudar a reduzir o estresse e, ao lado disso, buscar uma eventual causa”, disse Rubens.

“Ainda é muito importante sempre ficar atento por que pode ter uma causa estrutural. Assim, é necessário ir atrás, investigar se tem uma causa que merece um tratamento paralelo”, conclui Rubens.

Especificamente sobre a distimia, o psiquiatra Antônio Egídio Nardi afirma ser muito difícil o distímico procurar ajuda espontaneamente.

“Quando isso ocorre é devido à depressão. Em geral, é a família que leva o distímico ao médico ou pede para que ele vá. Embora reconheça que sofre de mau humor constante, sempre encontra uma possível justificativa: ‘é o meu chefe no trabalho’, ‘é a minha sogra’, ‘é porque está muito quente'”, relata Nardi.

“Assim, a divulgação deste diagnóstico pode fazer com que as pessoas sejam informadas que existe um quadro clínico que pode ser beneficiado com tratamento adequado. O diagnóstico só pode ser feito por profissional experiente na área. O tratamento envolve o uso de antidepressivos e psicoterapia cognitivo-comportamental”, finaliza Nardi.

Matéria publicada no Jornal da APCD por Swellyn França em outubro/2012

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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

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