Ficar com vários numa noite

Ficar com vários numa noite

Ficar com vários numa noite

Jovens disputam quem agarra mais em uma noite

Entrevista com Olga Tessari

Aproveitar bem a festa, para muita gente, está diretamente relacionado ao número de conquistas realizadas na mesma noite. Para meninos e meninas, agarrar dois ou mais “pretês” é como bater os próprios recordes.

Quanto mais se agarra, maior o número de créditos, maior a satisfação pessoal, e, obviamente, maior o reconhecimento entre os amigos. O garoto comprova que é um “verdadeiro macho”, e a menina deixa claro que “está podendo”.

Tudo se resume a uma sensação: prazer. Agarrar e beijar alguém é bom, eleva a autoestima, ajuda a relaxar.

“Eu gosto de ir pra noite e agarrar mesmo! Começar com uma menina, continuar a noite com outra, acabar a festa com uma terceira. Se der, ainda tento beijar outra antes de ir embora. Não tem nada melhor… conhecer as meninas e beijar, agarrar um pouco. Ainda mais se nenhuma delas me dá vontade de ficar a noite toda”, diz o estudante universitário Marcelo Brandão Almeida, 19 anos. “E o melhor é chegar pra galera no outro dia e contar como foi a noite”.

As meninas, antigamente mais recatadas, hoje querem a mesma liberdade dos caras.

“A gente vê os caras trocando de meninas a todo momento nas festas. Não somos cegas, não. Eu e várias amigas minhas já ficamos com mais de um na mesma festa. Mais de uma vez. Se eles podem, por que não podemos? Além disso, antes rolava um medo de sermos chamadas de galinhas, mas acho que agora isso não ocorre tanto. Os caras entendem melhor”, explica Ana Cláudia Duarte Pedroso, estudante de 17 anos.

Ficar com vários numa noite

Ficar vários numa noite é comum nas festas de final de semana, mas são em raves ou em grandes festas como o carnaval, com grande aglomeração de pessoas, que todos os recordes podem ser quebrados. Às vezes, quebrar recordes pode ser a única razão que faz muitos jovens participarem desses eventos.

“Uma vez, em uma Micareta, eu fiquei com oito caras. É verdade que bebi um pouco e isso facilitou. Mas eu queria mesmo era aproveitar, conhecer e beijar muitos caras. Mas algumas amigas de amigas minhas contaram que agarraram e beijaram 15, 20 caras”, contou a estudante Juliana Neves, estudante de 20 anos que pediu para ter o nome alterado nesta reportagem.

Carnaval, raves …

O carnaval da Bahia é uma das festas que mais facilita a quebra de recordes de “ficadas”. Lá, o beijo na boca é liberado.

“As meninas querem mesmo. Não estão preocupadas com o que os outros vão pensar. E os caras caem em cima, não deixam por menos. Eu passei uma semana de carnaval em Salvador este ano. No terceiro dia, eu já tinha ficado ou beijado 20 garotas. Depois disso, parei de contar. Foram mais de 40, com certeza”, garante o estudante Rodrigo Amaro, 18 anos, que também pediu para ter o nome modificado.

As raves, também propiciam esse tipo de comportamento. “As raves que rolam em parques ou praias sempre deixam todos mais à vontade. Eu fiquei com quatro meninas numa rave de dois dias no verão passado. Muita festa!”, conta o estudante Mateus Alano Borges, 17 anos, que também pediu para ter seu nome alterado.

Namoro antigo X Ficar

Veja algumas diferenças entre o namoro antigo e as “ficadas” ou rolos de hoje em dia:

Há 50 anos, o casal podia namorar, mas era vigiado pela família. Só ficavam a sós depois de casados. Os pais cuidavam das filhas para que elas não ficassem mal faladas.

Hoje em dia, o namoro é mais aberto. O convívio mais próximo possibilita mais conversa, e o casal acaba se conhecendo mais. Os namorados, ficantes, ou rolos dormem juntos, e, até mesmo por questão de segurança, as famílias preferem que o namorado ou a namorada dos filhos passem a noite em casa.

Por volta da década de 50, os namorados tinham dias para se encontrar: geralmente eram na quarta-feira, no sábado e no domingo. Agora, o roteiro de festas é completo de segunda a segunda, para todos os estilos e gostos. Basta ir a uma delas para ficar com alguém.

Antigamente, os homens eram mais galanteadores. Hoje, muitos jovens talvez nem saibam o que essa palavra significa. Ou seja, o cortejo, a sedução ingênua, as “atitudes respeitosas de um cavalheiro” caíram em desuso. Na verdade, muitas meninas de hoje achariam tudo isso muito estranho. Atualmente, mostrar virilidade e posicionamento firme com relação à menina é mais importante.

No passado, dificilmente um namorado conseguiria ir a uma festa com sua namorada. Nos bailes para jovens era comum ver as meninas acompanhadas de suas mães ou tias. Elas podiam aceitar convites para dançar, mas apenas com o consentimento da pessoa adulta que a acompanhava.

Antigamente, o namorado ia à casa da menina com flores e talvez uma caixa de bombons. Hoje, o cara conhece, agarra, beija, fica, briga e separa em uma festa. É como um relacionamento completo em uma noite. E, muitas vezes, ele não paga a ela nem uma bebida. Sinal dos tempos.

Antes, um namoro era quase que único na vida de um casal. A mulher tinha apenas um namorado em sua vida, e com ele casava-se e vivia para sempre. Hoje, os namoros podem terminar sem cerimônias, por qualquer motivo. O objetivo é passar um tempo curtindo junto, e não casar.

Olga Tessari, psicóloga e psicoterapeuta, é autora dos livros “Dirija a sua vida sem medo” e Amor X Dor: caminhos para um relacionamento feliz“. Ela comenta o fato de muitos jovens, atualmente, ficarem com mais de uma pessoa durante uma festa.

Para Olga Tessari, o fenômeno é natural e ajuda as pessoas a escolherem melhor seus futuros namorados(as) e parceiros(as) para casamento.

Entrevista com Olga Tessari

*as respostas estão registradas de acordo com a Lei dos Direitos Autorais

Hoje é comum adolescentes e jovens adultos ficarem com mais de uma pessoa em uma única festa. Qual o motivo deste comportamento?

Olga Tessari – O comportamento das pessoas muda ao longo do tempo de acordo com os conhecimentos, usos, costumes e hábitos da época. Há poucos anos, este comportamento seria inadmissível socialmente, embora seja algo comum e aceito atualmente.

O “ficar” é um comportamento que reflete o momento atual, onde todos querem ter prazer na maior quantidade e em menor tempo possível.

Além destes fatores, existe ainda a necessidade dos garotos de “contarem vantagem” para os seus amigos a respeito do número de pessoas com quem ficaram (sendo uma espécie de autoafirmação) ou mesmo de se sentirem valorizados e “superiores” diante dos amigos.

O ficar com vários numa noite é também uma forma de evitar um compromisso mais sério, por medo de virem a sofrer se vierem a ter um relacionamento mais sério e compromissado (o que pode ser um reflexo de maus relacionamentos anteriores).

O fato de ficar com vários numa noite pode ser por uma série de razões e as mais comuns seriam a necessidade de conhecer mais pessoas, de aumentar o “ranking” de ficantes, da necessidade de encontrar alguém especial, de se sentirem conquistadores, de serem populares, de evitarem a possibilidade de ter um relacionamento sério, etc.

Meninos e meninas estão agindo da mesma forma, na mesma intensidade? O tradicional medo de ser chamada de “galinha” está caindo?

Olga Tessari – É claro que os meninos são mais atirados que as meninas, pela própria natureza de preservação da espécie. Infelizmente, ainda persiste o preconceito “machista” de que meninas que ficam com vários são consideradas “galinhas”, mas muitas garotas não têm se importado com este preconceito e têm seguido seus desejos de querer ficar com vários, exatamente como os meninos agem.

Este fenômeno (ficar com mais de um) pode afetar instituições como o namoro e o casamento?

Olga Tessari – Namoro e casamento não são alterados por este tipo de comportamento. A instituição do casamento ainda vai continuar, independentemente das pessoas “ficarem” ou não.

O ato de “ficar” pode ser o caminho para permitir que as pessoas mantenham contato com o maior número possível de pessoas, o que pode propiciar uma escolha mais acertada do(a) parceiro(a) com quem será estabelecido um relacionamento mais duradouro, tal como um namoro ou um casamento.

Antigamente os namoros eram lentos, supervisionados por pais, e o beijo (vigiado) era o ápice da relação. Há anos, ficar com alguém, sem manter compromisso, tornou-se algo comum. Hoje, ficar com mais de uma pessoa em uma mesma noite é natural. Qual será o próximo passo neste tipo de relação?

Olga Tessari – Antigamente, com toda a vigilância que existia sobre um casal, era impossível um conhecimento maior acerca do(a) parceiro(a), pois o casal ficava mais preocupado com a vigilância do que com o conhecimento mútuo. Muitas vezes, era comum acontecer o casamento com o primeiro namorado, sem saber ao certo o porquê deste casamento.

Em meu consultório, quando casais que estão juntos há anos vêm para a consulta porque seu relacionamento caminha mal, é comum ouvir que se casaram porque namoravam por muito tempo, por pressões da família ou até porque já estavam “ficando velhos” e temiam ser chamados de solteirões.

Em nenhum momento pararam para refletir o que é um casamento, o que ganham ou perdem se casando e se a pessoa com quem se relacionam é mesmo a ideal para casarem-se e viverem juntos por toda a vida.

Penso que o ato de ficar tem trazido à tona este questionamento sobre o que é o casamento e permite que as pessoas, ao se decidirem por casar, saibam muito bem os prós e contras deste compromisso e saibam como lidar com ele para que dê certo.

O lado positivo do ficar é permitir que as pessoas conheçam-se mais e melhor antes de assumirem um compromisso maior, aumentando as chances deste compromisso se tornar algo duradouro e feliz.

Matéria publicada no site Terra – Jovem

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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

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