Fidelidade em baixa

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Fidelidade em baixa

Homens e mulheres têm motivações diferentes na hora de trair? Como cada sexo encara a dor da chifrada?

Entrevista com Olga Tessari

Vale a pena agarrar o travesseiro e entrar na fossa? Psicólogos e traídos respondem!

A estudante Daniele Ocleys dos Santos Deodato, 28, de Curitiba, era casada, no papel e na igreja. Estava há 10 anos (sete de namoro e três de casamento) com um farmacêutico acima de qualquer suspeita.

“Ele era do tipo que ninguém desconfiava, sempre dedicado, ´homem de família´, o marido perfeito”, conta Daniele. Até que uma das ferramentas virtuais mais reveladoras dos tempos modernos, o Orkut, tirou o sossego da moça.

“Comecei a notar certa frequência de uma mulher nos ´scraps´ e muita intimidade nas conversas. Até as amigas dela demonstravam intimidade com ele. Deixavam recados do tipo ´Obrigada pela carona´. Era tudo explícito, na cara de pau mesmo. Até que entrei no fotolog dela e estava lá ´TAMO JUNTO´ [sic], aí não tive dúvidas”, diz.

De fato, depois de pressionar o marido em busca de uma confissão, Daniele soube que tinha sido traída.

“Quando eu descobri, me senti a pior mulher do mundo e que estava casada com o homem mais ´canalha´ do universo, porque eu sei que não merecia a sacanagem que ele fez comigo”, afirma a estudante.

“Ele, com sorriso cínico no rosto, me respondeu que não queria mentir para mais ninguém, que tinha prometido para si mesmo que iria ser ´homem´ e sempre falar a verdade. Aí me contou da mulher com quem estava saindo”, descreve ela.

Apesar de tudo, ela tentou conversar com o cônjuge, a fim de perdoá-lo e seguir em frente com a relação.

O problema é que ela percebeu que o sujeito não levava o matrimônio nem um pouco a sério.

“Eu perguntei para ele o que era casamento. Ele ficou sem graça, porque não sabia a resposta, nunca tinha pensado sobre isso. Nunca vou esquecer a cara de bobo que ele fez”, garante.

Mais: o marido garantiu que antes de considerar uma possível volta, iria continuar saindo com a amante. “Fiquei só olhando para ele como quem quer dizer: ´Está pensando que eu sou idiota?´” E a união se desmanchou definitivamente.

Fidelidade em baixa

Casos desse tipo são bastante comuns e colocam a traição como uma das mais fortes precursoras para o término de relacionamentos amorosos. Isso porque as “puladas de cerca” detonam a autoestima e a confiança do casal, que, em muitos casos, não consegue superar absolutamente o erro de uma das partes.

É claro o comportamento humano não pode ser generalizado, já que cada pessoa e cada relação têm suas particularidades. Ainda assim, é possível apontar alguns dos motivos que levam as pessoas a traírem e como cada sexo lida com o assunto.

O que é pior: a desconfiança ou a descoberta?

“As duas coisas são ruins. A desconfiança acaba contigo. Você fica imaginando coisas. Se seu companheiro coloca o pé na porta, você já está com a cabeça a mil por hora. E descobrir é o fim de tudo. Você sente que falhou em algum momento e acaba se culpando por algo que às vezes não tem nada a ver com você. A gente demora para recuperar a autoestima…”

Lucivânia Almeida, 30, auxiliar contábil, traída enquanto estava grávida do primeiro filho

Trair e coçar… é só começar?

A psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, de São Paulo, explica que, em geral, homens e mulheres traem por questões culturais, carências, falta de perspectiva em relação a desejos e expectativas com o parceiro, vingança e, em alguns casos, a constante busca pelo novo e a excitação com a sensação de perigo. A diferença é que, enquanto as mulheres traem por emoção e afetividade, os homens procuram relações baseadas no sexo.

“Eles traem, em geral, por atração física em outra mulher, insatisfação na relação sexual que tem com a parceira e também para provarem sua masculinidade”, ressalta Olga. “A mulher busca a felicidade. Por vezes, se apaixona pelo amante. Elas se envolvem emocionalmente. É raro traírem por sexo”, enfatiza ela.

Fui traída. E agora?

Para o psicólogo e terapeuta sexual paulista João Batista Pedrosa, as uniões que têm traições costumam trazer três características em comum: desgaste na relação, falta de cumplicidade e afastamento do casal. De acordo com ele, na hora de perdoar o traidor, as mulheres tendem a ser mais flexíveis.

“Os homens, pela educação machista, são mais duros quando são traídos”, sinaliza.

Mas esse não é bem o caso da auxiliar contábil Lucivânia Viana Almeida, 30, de Goiás. Casada há um ano e meio (depois de ter namorado por um ano), ela soube pelo próprio marido que estava sendo traída.

“Eu engravidei um ano depois de nos casarmos. Nesse período, fique mais reclusa, não queria sair com frequência e não tinha muita disposição. Além disso, eu sentia muitas dores. Foi quando ele começou a sair sozinho e conheceu a tal garota”, releva.

Se sentindo magoada e desrespeitada, ela não quis perdoar o marido.

“Confesso que pensei nessa possibilidade, mas logo vi que nunca mais voltaria a confiar nessa pessoa e a vida a dois seria um inferno na terra. Pensei muito antes de partir para a separação, porque não queria ficar indo e voltando igual a muitos casais que vejo por aí”, ela disse. E mais uma relação chegou ao fim.

A estudante de Curitiba disse que também teve dificuldades para perdoar a traição do marido.

“Tenho que ser sincera, porque, na minha opinião, você só perdoa quando não dói mais. E em mim ainda dói muito tudo o que aconteceu. Eu tenho uma grande interrogação: por que ele fez isso?”, questiona.

Para Olga Tessari, os homens que perdoam colocam uma pedra sobre o assunto, enquanto as mulheres sempre vão trazê-lo à tona. “Por isso é preciso muita conversa para saber se vale a pena prosseguir na relação. O casal deve voltar a sentir confiança”, sugere.

Olga Tessari diz que, em muitos casos, algumas mulheres não têm coragem de terminar a relação, mesmo quando sabem que estão sendo traídas. “Tem muitos motivos que levam a esse comportamento, como insegurança, baixa autoestima, dependência financeira e até infantilidade ou teimosia”.

Quem ama trai?

“Se traiu é porque tem alguma coisa errada. O traidor é uma pessoa que se deixa levar pelo sentimento. Não é uma questão de amor, mas de maturidade.” Daniele Ocleys, 28, estudante, traída depois de 10 anos de relacionamento

Mas vale a pena descobrir pelo próprio traidor sobre o erro que ele está cometendo?

Daniele e Lucivânia têm opiniões diferentes. “Se traiu é porque algo não vai bem, então já que cometeu o erro é melhor contar sim. Porque não é só a sua vida que esta em jogo, mas a de outra pessoa também. É melhor ser honesto, aguentar as consequências das suas atitudes, porque você poderia sim ter se controlado”, aposta a primeira.

“Nunca! Tem gente que acha o máximo dizer ´eu traí, mas contei´. Grande coisa! Dói do mesmo jeito, ou pior”, acredita a segunda.

Elas dizem que o melhor consolo, depois da traição, é chorar o quanto tiver de chorar e procurar um ombro amigo com amigos e com a família. Se a dor persistir, vale a pena procurar um psicólogo, para aprender a lidar com a perda e a nova perspectiva de vida.

“Traição não é mais o fim do mundo, muitas coisas boas acontecem. Tem o lado positivo. No meu caso, estava com uma pessoa que, além de ter me traído, me colocava para baixo, me fez ter medo de dirigir, ser insegura, abdicar das minhas vontades por ela, largar emprego e faculdade e me fazia de válvula de escape do mau humor dele”, conta Daniela.

A auxiliar contábil de Goiás garante que a tristeza passa e a mulher consegue sim dar a volta por cima. “Pode apostar que a dor vai embora. É só você não se fechar para outro relacionamento. Além disso, depois da relação, você percebe o quanto é forte e consegue ter uma vida independente”, diz. E a fila anda.

Matéria publicada no Guia da Semana por Pamela Cristina Leme

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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

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