Autoestima – eu me curto 8

Autoestima: eu me curto

Autoestima – eu me curto!

A autoestima não é uma marca de nascença, mas algo que deve ser desenvolvido desde a tenra infância: a falta dela pode levar a consequências psíquicas graves

Entrevista com © Dra Olga Tessari

Até os 12 anos a menina A. (preservamos sua identidade) morou com a mãe, empregada doméstica, num lote que ficava no terreno da família paterna (ela prefere não divulgar o nome dos pais) que abandonou a prole.

“Pobre, favelada, burra, retardada, gorda” gritavam os primos com os quais Alessandra convivia diariamente; com os menorzinhos era proibida de brincar. Os tios não a xingavam, apenas ignoravam. A avó, dona do lote, idem.

O contato com o pai só veio há 4 anos, e mesmo assim por intervenção do Ministério Público. “Eu estava me perdendo por ruptura de valores afetivos, familiares e sociais”, conta A.

Passaram-se 22 anos e A. é estudante de direito e pedagogia, mas ainda não trabalha. Gagueja para falar, sofre de obesidade, que considera uma capa protetora. Diz que não tem amizades: a sensação é de que o outro sempre a rejeita.

“Minha autoestima foi tão minada que não me sinto à vontade nem mesmo para ser vaidosa.” Se a programação, por acaso, exige que se arrume um pouco mais, nem pensar. Até pouco tempo era difícil cuidar das unhas e cabelo. A usar maquiagem, prefere não sair; nunca namorou. Seu lazer é solitário: livros e cinema, no máximo com a mãe e o irmão.

A. sofre e não é pouco. Só tardiamente começou a faculdade: sentia-se incapaz. Tentou suicídio 10 vezes; numa delas pendurou-se no edifício Acaiaca (centro de Belo Horizonte), noutra, no prédio da prefeitura e ainda houve ingestão de medicamentos.

“Recebi tanta porrada, uma série tão grande de abandonos que tenho dificuldade de me amar. A sensação de insegurança que trouxe da adolescência para a vida adulta é tão forte, sinto-me tão sem lugar no mundo, que não acredito que alguém me aceite.”

Já são 15 anos de tratamento psiquiátrico e psicanalítico e A. começa a dar significativos passos: consegue encarar seu interlocutor e não sua nem treme mais ao encontrar parentes no shopping. Ainda não se sente, em suas palavras, adequada, mas junto com a mãe trabalha duro: “Com muito diálogo, valorizamo-nos. Somos importantes uma para outra, independentemente da aprovação alheia. Estou buscando algo para mim e começando a me amar, respeitar-me.”

A baixa autoestima

A baixa autoestima que tanto maltrata A. não é rara. Segundo estudos publicados pela Organização Mundial de Saúde, tal sentimento é um dos fatores de risco para o suicídio. Como escapar disto?

Para o psicanalista Luiz Alberto Py, os conceitos transmitidos às crianças vão criando ciclo vicioso: a criança é amada se tira as maiores notas, se é bonita, se faz assim ou assado. “O bombardeio é constante. A forma de escapar é pelo amor incondicional. A pessoa tem que se amar de qualquer jeito: gordo, feio, pobre, fraco. Não é com racionamento de amor que se melhora.”

Pouco afeto e muita depreciação foi a fórmula amarga que, por anos, desceu goela abaixo da publicitária Gisela Rao, criadora do blog Vigilantes da Autoestima, que desde 2009 recebe, em média, 3 mil acessos diários.

Nele, relatos de mulheres sofrendo por conta de migalhas afetivas, relacionamentos tóxicos em que se vive a vida do outro. Homens que, por dificuldades no trabalho, sentem a masculinidade diminuída. Vítima de pai ausente e depreciador, e mãe com síndrome de vítima, Gisela cresceu com estrutura interna frágil.

“Por ser pouco confiante em mim, procurava homens parecidos com meu pai. Quando o cara era legal, eu sabotava o relacionamento: incorporava a vítima, ficava agressiva.” Na escola não faltou o professor para anunciar: “Feiura”, na hora da chamada.

Aos 44 veio a crise dos 40, mas também a leitura de um livro libertador (O Jardim das Qualidades), que trouxe à tona a blogueira, o movimento Stop Minhocation com encontros regulares para troca de experiências, depoimentos e, mais do que tudo, apoio mútuo.

“A autoestima tem que ser vigiada constantemente. O resgate tem que ser diário. É fácil nos perdermos de nós mesmos”, constata Gisela.

A influência da cultura

Entre outras razões porque, de acordo com a psicoterapeuta Olga Tessari, autora do livro Dirija sua Vida sem Medo, nossa cultura leva à autoflagelação na medida em que a sociedade marginaliza aquele que não é igual ao que o grupo elege como importante.

A pressão pelo sucesso social é grande. “O primeiro passo é se aceitar. Traçar caminhos para ficar mais feliz consigo mesmo”, disse Olga Tessari. Na prática significa não se culpar nem remoer erros. Muito menos depender da aprovação alheia.

Olga Tessari ainda assinala que ninguém tem autoestima elevada o tempo todo: “Senão, nunca melhoraríamos. Somos como o burrinho com a cenoura à frente; estamos sempre buscando algo.”

Diva Ladeira, 67 anos, parece entender bem como desenhar um percurso. Vinda de família com histórico de câncer, com ela não foi diferente. Mas o resultado positivo e o susto inicial não a impediram de acreditar que o problema seria superado. E foi. Fez todos os tratamentos, cirurgia e já nem pensa no assunto.

“Sabia que ia vencer. Acredito que a vida é boa e que alguns momentos é que são ruins e até nos marcam muito. Mas não acontecem todo dia. Agora, se a pessoa acha que um amassadinho no carro é problema, aí fica complicado.” Mulher de fé, Diva acredita que ninguém nasce só para estar aqui, neste momento. E acha que tudo tem solução.

A farmacêutica S.N, 27 anos, é uma bela garota. Agradável e educada, à primeira vista não é possível imaginar que esteja com a autoestima em baixa. Está desempregada e isto é fator determinante para tal. Mas confessa que sempre se comparou e acha-se pior.

“Eu me desvalorizo. Acho que me visto pior, que a família alheia é mais bacana. Apesar de eu ser vaidosa, nunca acho que estou suficientemente bem.”

Conta que em relacionamentos sempre se rebaixou: olhava o outro de baixo para cima. “As pessoas me veem como boazinha, mas estou sofrendo.” S.N. morre de medo de ter filhos: “O adulto é resultado da infância”, é a certeza dela.

É fato que quando o ambiente não é favorável torna-se mais difícil desenvolver a autoestima. Mas, segundo a psicóloga Jade Soutto Costa Goulart, há também o olhar do sujeito. “Somos resultado de um movimento interno. Podemos entender uma realidade ruim com outro olhar.” Ela fala que é importante, inclusive, a auto aceitação das próprias limitações.

Toda moeda tem 2 lados

Por isto toda moeda tem dois lados e nele estão os empresários Leonardo Espírito Santo, 28 anos, participante do reality show Hipertensão, exibido pela Rede Globo em 2010, e Ana Gutierrez, proprietária da academia Fórmula, uma das maiores da cidade. Não é exagero dizer que, de 0 a 100, a autoestima deles chega perto do topo.

Guerreiro, competitivo, confiante são palavras com as quais Leonardo se define. “Na semana em que saí, o Ibope caiu”, diz ele, que, para tentar ganhar os 500 mil reais do prêmio deliciou-se com mousse de minhoca e drinque de sangue de boi.

Com 20 anos foi para Londres tentar a sorte – a família estava em dificuldades financeiras. Passou tempos a pão e água e num dos dias negros deu graças a Deus quando encontrou uma pera no meio-fio.

No frigir dos ovos e muito suor depois, estava morando numa casa em frente ao mar. “Tudo isto fortaleceu minha autoestima e no meu horizonte imediato nada parece impossível.”

Autoestima: eu me curto!

Também flanando em céu azul e com espírito tranquilo está Ana Gutierrez.”Acredito na força interior, em pensamentos positivos.” Para ela, quem está em dia consigo mesmo trabalha e relaciona-se melhor com o mundo ao redor. “Reflete em todas as atitudes nossas.”

Por isto, ela acha que situações que mexem com a autoestima podem, sim, jogar a pessoa lá embaixo. “O fracasso amoroso e o desamparo familiar”, cita ela como particularmente dolorosos. O carinho é uma das chaves para destravar as dificuldades.

Faz todo sentido. Jade explica que é por meio do afeto que o ser humano tem a dimensão de quem é. “Todo mundo precisa do olhar do outro.”, diz ela. Por isto, se gostar é um aprendizado.

Matéria publicada na Revista Viver Brasil nº 61 Por Raquel Ayres

Leia mais textos sobre Autoestima

AE8-620

Siga Olga Tessari nas redes sociais: Facebook – Youtube – Instagram – Twitter – Linkedin

Siga Olga Tessari nas redes sociais: Facebook – Youtube – Instagram – Twitter – Linkedin

olga_tessari

OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

AVISO! É proibida a cópia ou reprodução parcial/integral do conteúdo desse site em qualquer formato e em qualquer lugar, seja para uso comercial ou não, editorial, impresso, canal, blog, site ou rede social. Para compartilhar, use o link ou os botões de compartilhamento. A cópia sem autorização é crime sujeito às penas da lei: não seja o próximo a ser processado judicialmente! (Inciso I Artigo 29 – Lei 9610/98). Solicite sua autorização: clique aqui

www.ajudaemocional.com