Falta de interesse em estudar

Falta de interesse em estudar

Falta de interesse em estudar

A falta de interesse por estudar pode ser sintoma de carência.

Entrevista com © Dra Olga Tessari

Especialista afirma que os pais têm que ouvir o que o filho tem a dizer e não compará-lo a outros

A psicóloga Olga Tessari diz que as crianças que não recebem a devida atenção dos pais podem deixar a escola de lado para chamar a atenção. A solução é dedicar mais tempo aos pequenos.

Para ela, excesso de trabalho e falta de tempo não é desculpa. A psicóloga defende ainda a tese de que os pais não podem delegar essa responsabilidade a outro.

Ela também fala sobre o tratamento dado a meninos e a meninas, o acesso à cultura e excessos de atividades extracurriculares.

Entrevista com Olga Tessari, Psicóloga e Psicoterapeuta

(direito autoral das respostas © Dra Olga Tessari)

Na sua opinião, qual o limite para ajudar a criança na escola?

Dra Olga Tessari: Se os pais tomam para si a responsabilidade de fazer um caderno bonitinho, decorado, com todas as respostas, a criança pode se sentir incapaz. Isso pode diminuir a auto-estima da criança. O papel dos pais é acompanhá-los na lição de casa e tirar dúvidas.

Quando a criança não quer estudar, o que os pais podem fazer?

Dra Olga Tessari: O pai tem que ouvir o que o filho tem a dizer. Dar atenção. Se o filho chega para os pais, conta como foi na escola e é ignorado, vai ficar desestimulado. Essa coisa de não gostar de estudar, muitas vezes, também é uma forma de chamar a atenção do pai e da mãe.

É o mesmo que acontece quando a mãe chega do trabalho e vai cuidar dos afazeres domésticos: se ela estiver lavando a roupa, e a criança tenta falar com ela, mas não tem sucesso, vai quebrar alguma coisa ou brigar com o irmãozinho para chamar a atenção dela.

Então, o que fazer se a tendência é os pais trabalharem cada vez mais?

Dra Olga Tessari: Os pais têm que entender que, a partir do momento que têm um filho, eles terão que dedicar tempo para a sua formação. Valores e regras se ensinam em casa. Nem sempre precisa-se de muito tempo. Costumo dizer que se você disponibilizar meia hora por dia de atenção exclusiva com o filho já é o suficiente. Temos que entender que a criança é curiosa por natureza. Ela quer aprender.

E na adolescência, como lidar com o desinteresse pelo estudo?

Dra Olga Tessari: Quando o filho chega à adolescência, se os pais não construíram uma relação de diálogo e não colocaram limites, fica difícil mudar isso agora nessa fase.

Como desenvolver o interesse da criança?

Dra Olga Tessari: É importante elogiar o que a criança faz de bom. Quando uma criança faz algo considerado errado, os pais brigam e colocam-na de castigo. Quando ela precisa recuperar uma nota, os pais estudam com ela, ajudam e, se ela tira nota oito e não dez, eles não elogiam.

Geralmente reclamam que ela não tirou dez. É preciso valorizar o esforço, dizer: “Parabéns por ter tirado oito, mas procure melhorar mais da próxima vez porque eu sei que você é capaz”.

Quando a criança está na fase de querer fazer as próprias vontades, como brincar em vez de estudar, o que fazer?

Dra Olga Tessari: Os pais devem negociar, mas nunca satisfazer 100% o desejo da criança, senão ela fica sem limite. Por exemplo: se o filho quer brincar o dia inteiro ao invés de fazer o dever de casa, peça para ele terminar aquela brincadeira e ir fazer o dever ou interromper por alguns instantes para cumprir com as obrigações.

Os pais não devem fazer um discurso longo. Eles devem ser firmes, porém dóceis. Até porque a criança nasce sem limite nenhum. Os pais têm o dever de preparar os filhos para o mundo, para viver e sobreviver em sociedade.

Como tratar meninos e meninas na mesma casa?

Dra Olga Tessari: Os pais ainda seguem modelos antigos de relacionamento. A mãe hoje em dia trabalha, mas chega a casa e, muitas vezes, ainda é responsável pelos serviços domésticos. O pai deve ajudar a mãe e mostrar aos filhos que também participa da casa. Com a escola é a mesma coisa. Os dois – meninos e meninas – devem estudar igualmente, sem comparações.

Que impacto as comparações têm nas crianças?

Dra Olga Tessari: É muito ruim para elas. Principalmente quando são comparadas com crianças de outras famílias. Os pais não devem dizer: “Você viu o filho de fulano? Ele tira nota boa”. Isso cria uma noção de que os outros são melhores do que elas. Até porque os pais, geralmente, valorizam o outro em detrimento do próprio filho. Abala a autoestima. O que os pais podem fazer é levar à reflexão. Eles podem dizer, por exemplo: “Viu o filho de fulano? Ele tira nota boa, por que será?”

Muitas pessoas defendem que é importante estimular a cultura da criança, desde cedo. A senhora concorda?

Dra Olga Tessari: Sim. As crianças tendem a imitar as pessoas mais próximas, portanto, os pais. Muitos filhos vêem os pais lendo e folheiam uma revista ou um livro, mesmo sem saber ler ainda. Enquanto elas não souberem ler, os pais podem dar uma atividade de pintar ou recortar para ela se desenvolver mais. O desenho é um grande estímulo.

O excesso de cursos e de atividades extracurriculares pode prejudicar os filhos?

Dra Olga Tessari: O objetivo dos pais, quando matriculam a criança em vários cursos, é ampliar os horizontes dos filhos. Mas, para isso, também é importante definir um tempo para a criança brincar. As brincadeiras são fundamentais para o bom desenvolvimento da criança.

Crianças com rotina de adultos

Excesso de atividades pode sobrecarregar e prejudicar desenvolvimento dos pequenos Aulas de inglês e espanhol, curso de música, natação e balé. A agenda de uma criança pode ser tão cheia quanto a de um adulto. A grande quantidade de compromissos quase sempre surge da vontade de levar a melhor educação para os filhos. Mas, como tudo em excesso, pode atrapalhar.

Não há nada de mal em se preocupar com o desenvolvimento profissional dos pequenos, mas eles não devem permitir que as responsabilidades tomem o espaço das brincadeiras e da diversão. Caso contrário, eles podem ter o desenvolvimento prejudicado.

“Os pais devem ter cuidado com a agenda dos filhos para não sobrecarregar a criança. Mas a fase da alfabetização (de 5 a 7 anos), por exemplo, é importante para o aprendizado. Primeiro, é um bom momento para atividades físicas. Depois, desenvolver os idiomas.

Nessa faixa etária, não existe crítica interna. A criança fala o que está aprendendo, mesmo que a pronúncia esteja errada”, comenta a diretora pedagógica da escola Leonardo Da Vinci, Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton.

Leitura obrigatória, mas sem sacrifício

Célia Cristina Soneget Sarmento, 40 anos, é daquelas mães que estão sempre preocupadas com a educação dos filhos.

Ela faz questão de acompanhar de perto o desempenho na escola, estimula o raciocínio por meio de jogos, determina horário de estudos e criou uma regra: antes de dormir, é preciso ler um capítulo de livro, todos dias. Sacrifício? Nenhum. Basta ver a concentração de Leonardo, 13, e Felipe, 9, enquanto lêem Harry Potter. A obra são eles que escolhem. “Quando acabar, vou trocar de livro com o Felipe”, explica Leonardo.

Visitar museus, zoológicos e parques de diversão fazem parte do roteiro da família. Os passeios, além de estimular o desenvolvimento cultural, são diversão do início ao fim. Durante a viagem eles fazem sudoku – quebra-cabeça de números – e outros jogos de raciocínio.

O passatempo virou mania, principalmente, para o pequeno Felipe. “Tenho dois filhos muito inteligentes e participo 100% de tudo o que fazem na escola, principalmente, na forma de estudar. Eles têm horário de estudo durante a semana. Mas o domingo eles tiram o dia para brincar e usar o computador”, diz a mãe, orgulhosa.

Lazer – Brincadeira é uma forma de aprender

Professores e psicólogos são unânimes: brincar faz bem. Além de ajudar no desenvolvimento de habilidades específicas, essa é uma oportunidade de estimular a autonomia das crianças. Para a psicóloga Olga Inês Tessari, essa é uma forma de desenvolver o raciocínio. “A partir do momento em que a criança tem uma ou duas horas por dia para brincar, ela desenvolve suas habilidades.

Quando um menino brinca de carrinho, por exemplo, ele desenvolve a inteligência espacial. Além disso, é importante a interação em grupos. Quando a criança interage com outras, brincando, desenvolve a sociabilidade e aprende a lidar com limites. É diferente da atividade com adultos, quando alguém sempre acaba dizendo a ela o que fazer. Desenvolve a autonomia”, comenta.

Mas a brincadeira deve surgir como um direito, não uma recompensa. Trocar a realização do dever de casa por um passeio, por exemplo, pode passar a idéia de que a escola é ruim e o passeio é bom. “É preciso tomar cuidado com esse tipo de recompensa.

O lazer deve ser estimulado, mas sem ser prêmio para as horas de estudo. Os pais têm que ter um discurso claro. Dizer aos filhos porque é importante estudar e perguntar o que eles pensam em fazer no futuro”, explica a terapeuta de família, Ana Ofélia Brignol Pacheco da Silva.

Rotina – Incentivo para quem passou de raspão

Avançar de série nunca é fácil. Mas, para quem reprovou ou passou de raspão no ano anterior, é um desafio maior ainda. O momento de puxar a orelha já acabou e agora os pais devem contribuir para que o desempenho dos filhos melhore.

Segundo um estudo da Unesco, divulgado no ano passado, o Brasil tem o maior índice de repetência escolar entre as nações pesquisadas: 18,6% dos estudantes primários brasileiros repetem de ano. Um levantamento da rede estadual de ensino indica que o índice de reprovação na 2ª série do ensino fundamental e no 1º ano do ensino médio são maiores; 15,84%, e 14,53%, respectivamente. No entanto, os professores defendem que todas as séries exigem a mesma atenção.

A orientadora pedagógica da escola São Domingos, Liliane Auriemma, ressalta que quem deixa para estudar no final do ano dificilmente consegue recuperar o tempo perdido. Ela diz que os pais devem ajudar os filhos a criar uma rotina de estudos desde o início do ano.

Para diretora da escola Crescer, Vera Zanol, a dedicação é ainda mais importante para os que passaram com notas mínimas. Afinal, as novas disciplinas vão exigir um conhecimento prévio. Estimular a autoestima do aluno também é fundamental. “É importante tomar cuidado para não usar frases do tipo: outra vez você não aprendeu! Palavras ou até mesmo um olhar podem abalar a autoestima da criança ou do adolescente”.

Para ter bom aluno em casa, família tem de ser nota 10

Para a maioria dos estudantes, a temporada de aulas começa nesta semana. Mas, antes que os pais exijam notas altas, é importante admitir que o resultado não depende apenas do aluno. A família tem um papel fundamental no desempenho de crianças e adolescentes na escola.

Estudos indicam que crianças que têm acesso a livros, viagens e outras formas de contato com a informação têm melhor desempenho nas provas. Por outro lado, o resultado em algumas disciplinas pode ser explicado pela ausência de estímulo na idade escolar.

Sessenta e sete por cento dos estudantes brasileiros do 3º ano do ensino médio tiveram desempenho crítico ou muito crítico em Matemática no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) em 2001. Professores defendem que a prática de jogos de raciocínio desde na fase da educação infantil pode despertar o interesse pelos números e, quem sabe, reverter esse quadro no futuro.

Da mesma forma, outras ações simples podem aumentar o aprendizado do estudante. “Existem pesquisas apontando para a importância da diversidade cultural da família no processo de alfabetização, por exemplo. Os pais podem contribuir de várias formas”, diz o doutor em Educação Infantil e professor da Ufes Rogério Drago.

A falta de interesse em estudar pode ser um hábito

Ele lembra que, vendo os pais lendo livros, jornais e revistas, a criança tende a incorporar esses hábitos, e alerta: “A família é importante, mas não deve substituir o professor”.

Ao invés de ensinar o alfabeto ao mesmo tempo em que o professor, os pais podem pedir para os filhos ajudarem a fazer a lista de compras ou simplesmente estimular o desenho, por exemplo. “A criança deve saber que a escrita é uma necessidade de vida e não da escola”, opina a diretora pedagógica da escola Leonardo Da Vinci, Maria Helena Salviato Biasutti Pignaton.

Estabelecer um horário de estudos para completar o aprendizado de sala de aula também traz resultados comprados. Cerca de 30% dos piores alunos do Enade – exame que mede o desempenho de estudantes de curso superior ? não estudam em casa. Entre os bons alunos, 35% estudam mais de oito horas por dia, além da sala de aula.

Uma educação que vem de berço

Como toda menina de 14 anos, Manoela Dall Orto Rocha gosta de sair com as amigas para shoppings e praias. Entre as atividades preferidas estão tocar violão, o skate e o computador.

A diferença entre ela e maioria das colegas é que Manoela aprendeu a ler com três anos de idade e soma no currículo uma lista com milhares de livros lidos, o primeiro lugar numa olimpíada de matemática com sete mil concorrentes e curso de inglês avançado. Manoela, assim como os irmãos Maria Alice, 9, e Guilherme, 17, vem de uma família em que conhecimento nunca é demais.

Os pais, o médico Manoel Nascimento Rocha, 51, e a psicóloga Mariela Xavier Dall Orto Rocha utilizaram a habilidade profissional a favor dos três filhos.

Guilherme, 17 anos, terminou o ensino médio no ano passado e passou em três faculdades. A caçula, Maria Alice, 10, frequenta as aulas de inglês desde que tinha dois anos, é capaz de montar quebra-cabeças com mais de 500 peças.

Todos já conheceram locais, como o Museu Louvre, em Paris, e o Vaticano.

Manoel chegou a escrever um livro “O ser pai”, contando a preocupação com temas cotidianos na criação dos filhos. “Temos um método chamado conexão neural. Tentamos trazer para o consciente uma ação que, geralmente, é feita de forma inconsciente ou automática, como acender a lâmpada, por exemplo”, diz.

Na última sexta-feira, Manoela alcançou mais uma conquista: aos 14 anos foi aprovada em 10º lugar no vestibular para Arquivologia da Ufes. Com seus 73 pontos, ela passaria na maioria dos cursos da universidade.

Matéria publicada na Gazeta on line por Carla Nascimento em 01/02/2009

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OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

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