Ser adolescente

Ser adolescente

Ser adolescente

A mudança de comportamento e a atitude dos filhos causa estranhamento nos pais

Entrevista com Olga Tessari

Ser adolescente

A passagem da infância para a adolescência é repleta de descobertas, conflitos, transformações. E muitas das mudanças ocorridas nos filhos, os pais não compreendem e questionam as crianças por isso, causando discussões e problemas dispensáveis.

Para falar sobre o assunto entrevistamos por correio eletrônico a psicóloga e psicoterapeuta Olga Tessari, que vai explicar melhor como os pais devem lidar com essa situação.

Confira o bate-papo na íntegra!

*as respostas de Olga Tessari estão registradas de acordo com a Lei dos Direitos Autorais

Site Pe. Marcelo Rossi – A passagem da infância para a puberdade é repleta de descobertas e mudanças. É normal os as crianças terem um comportamento diferente e que até possa estranhar os pais?

Olga Tessari – Todas as crianças, em geral, quando entram nesta fase da vida, costumam ter algumas atitudes e comportamentos estranhos, diferentes dos que costumavam ter até a entrada na adolescência.

Os pais, que estavam habituados com a criança, de um momento para o outro, veem-se diante de filhos que agem de forma diferente da usual. Isso lhes causa estranhamento e confusão, o que é natural, pois tudo o que é novo assusta todo mundo!

Site Pe. Marcelo Rossi – Quais são as principais mudanças ocorridas nessa fase?

Olga Tessari – Mudanças físicas/corporais: o corpo deixa de ser infantil para tornar-se adulto, surgem os pelos no corpo e no púbis, o aparelho reprodutor passa a funcionar, a voz dos meninos engrossa, crescem os seios nas meninas; o crescimento é acelerado e eles ficam meio desengonçados, desajeitados, até porque tem dificuldade em ter uma noção exata de seu corpo que muda a cada dia.

As variações hormonais são grandes, o que provoca variação no humor, passando da extrema alegria para a tristeza num piscar de olhos. Ser adolescente não é fácil não…

Mudanças de comportamento: os filhos, que antes eram dóceis, passam a ser questionadores, choram, rebelam-se, tem atitudes e comportamentos estranhos segundo o conceito dos pais. Passam a andar em bandos, grupos, “tribos” e valorizam mais o seu grupo do que a própria família. Refugiam-se no seu quarto, aparentam estar tristes, mas é um momento de ficar só para refletir acerca destas mudanças e para a própria definição de si mesmo.

A adolescência é uma fase da vida na qual ocorrem muitas mudanças: surgem alterações no corpo, que deixa de ser infantil para tornar-se adulto e transformações de comportamento que servem para a construção da identidade, momento em que o adolescente deixa de lado os valores dos pais e os questiona para criar seus próprios valores que, no final, podem vir a ser idênticos aos dos pais assim como podem ser totalmente divergentes dos valores paternos ou uma mistura entre os valores semelhantes e os divergentes.

Site Pe. Marcelo Rossi – Qual o problema mais comum que os pré-adolescentes costumam se deparar nesse período?

Olga Tessari – A dificuldade de relacionamento com seus pais que, ora os veem como crianças irresponsáveis, ora cobram deles atitudes e responsabilidades de adultos. Pais que muitas vezes não exigiam/cobravam atitudes responsáveis e o cumprimento de obrigações, passam a fazê-lo nesta fase, dizendo “você já está grande”, o que pode causar revolta nos adolescentes, até pelo fato deles não terem aprendido a serem responsáveis ao longo de sua existência.

Site Pe. Marcelo Rossi – Essa mudança é bastante complicada para os pais também, não?

Olga Tessari – Como esta é uma fase de construção da própria identidade, de escolha dos valores e dos caminhos a seguir, muitas vezes eles vão contra o que os próprios pais desejam para eles. Até parece que, basta os pais dizerem para o filho não fazer algo que ele logo vai lá e faz exatamente o contrário.

Os adolescentes parecem sentir prazer em contrariar os pais, mas na verdade, essa atitude rebelde é necessária, pois eles precisam negar e criticar todos os valores transmitidos pelos pais para poderem estabelecer os seus próprios valores. Seria algo como se despojar de todos os valores aprendidos até então através da crítica e da negação.

Site Pe. Marcelo Rossi – Por conta disso, esse relacionamento entre pais e filhos começa a ter mais atrito nessa época, já que cada um busca coisas diferentes?

Olga Tessari – Pais sempre pensam que sabem o que é o melhor para seus filhos. Isso até pode ser verdade na infância, quando a criança não tem noção exata daquilo que é bom ou prejudicial para si mesma. Mas na adolescência os filhos já tem uma certa noção daquilo que é bom para si mesmos e nem sempre suas escolhas são semelhantes àquelas desejadas pelos pais.

O atrito é comum, até porque os pais não aceitam que seus filhos possam querer/ser contrários ao que eles, como pais, consideram o melhor para os filhos e, principalmente porque os pais tem uma grande dificuldade de aceitar que seus filhos cresceram, pois a infância passa muito rapidamente.

Site Pe. Marcelo Rossi – Há certos constrangimentos, inclusive, por conta dos questionamentos sobre o corpo e sobre sexo, por exemplo. Como superar este obstáculo e evitar que os jovens tenham problemas futuros?

Olga Tessari – Pais que tem dificuldade em lidar com a própria sexualidade, não se sentem à vontade para falar de sexo com seus filhos. É importante que os pais leiam sobre o assunto e tentem conversar com seus filhos de forma aberta e sem preconceitos, aproveitando algum tema na televisão ou algum comentário para inserir o tema sexualidade.

Vale dizer que pais que querem manter o diálogo com seus filhos devem fazê-lo desde a mais tenra idade, fazer disso um hábito para que ele possa ser mantido ao longo da vida inteira, com abertura para se falar de tudo, inclusive sexo.

É importante que os pais passem credibilidade naquilo que falam, mostrem que acreditam no que dizem e que tenham a humildade de aceitar o fato de que não é porque são pais que tem todas as respostas prontas. No caso deles não saberem responder a uma dúvida específica dos filhos, devem se comprometer a fazer uma pesquisa juntamente com eles para saberem mais do assunto.

Site Pe. Marcelo Rossi – O que os pais devem fazer para ajudar na orientação de seus filhos nessa fase?

Olga Tessari – Os pais devem sempre tentar agir de forma verdadeira/honesta com seus filhos, procurar entender o que se passa na cabeça deles sem criticá-los pura e simplesmente. Lembrar que já foram adolescentes também e que nesta fase da vida é importante aprender a respeitar o espaço do filho, entender seus pensamentos, tentar dialogar ao máximo sem querer impor absolutamente nada.

Na vida, precisamos ser convencidos para que possamos concordar com algo e os jovens precisam deste convencimento mais do que ninguém. Portanto, ao estabelecer um limite ou mesmo proibir seu filho de determinada coisa, tentar explicar para ele o porque, revelar seus sentimentos.

Pode ser que seu filho não concorde num primeiro momento, que questione, mas ele vai acabar convencendo a si mesmo de que seus pais estão certos ou, mesmo não concordando com eles, vai deixar de fazer aquilo que gostaria porque ama seus pais e não os quer ver infelizes.

Lembrar que ser adolescente é uma fase que vai passar, portanto, é importante ter paciência, estar aberto a questionamentos e, por que não, aprender com eles, pois a vida é um eterno aprendizado e ouvir os filhos pode ser um caminho para questionar os próprios valores, melhorar a qualidade de vida e o relacionamento familiar.

Matéria publicada no site do Padre Marcelo em 03/06/2006 por Rodrigo Herrero

181

Siga Olga Tessari nas redes sociais: Facebook – Youtube – Instagram – Twitter – Linkedin

Siga Olga Tessari nas redes sociais: Facebook – Youtube – Instagram – Twitter – Linkedin

olga_tessari

OLGA TESSARI – Psicóloga (CRP06/19571), formada pela Universidade de São Paulo (USP), pesquisa e atua com novas abordagens da Psicologia Clínica, em busca de resultados rápidos, efetivos e eficazes, voltados para uma vida plena e feliz. Ama o que faz e segue estudando muito, com várias especializações na área. Consultora em Gestão Emocional e Comportamental, também atua levando saúde emocional para as empresas. Escritora, autora de 2 livros e coautora de muitos outros. Realiza cursos, palestras e workshops pelo Brasil inteiro e segue atendendo em seu consultório ou online adolescentes, adultos, pais, casais, idosos e famílias inteiras que buscam, junto com ela, caminhos para serem felizes! Saiba mais

www.ajudaemocional.com